Nenhuma bebida recebe tanta atenção de cientistas quanto o vinho.
Composto de cerca de 400 substâncias, a cada estudo surgem novidades a
respeito de seus efeitos. Na dose certa — duas taças diárias para homens
e uma para mulheres — protege o coração e o cérebro. Mas agora os
amantes da bebida têm mais motivos para brindar. Cientistas da
Universidade da Calabria, comprovaram que o resveratrol, encontrado na
casca da uva, aumenta o colesterol bom, baixa a pressão arterial,
rejuvenesce as artérias, mantém o nível adequado de açúcar no sangue e, o
que surpreendeu muitos pesquisadores, dificulta a multiplicação de
células malignas, em experimentos feitos em laboratório. Os poderes do resveratrol são tão grandes que já
existem estudos para transformar a substância em um medicamento.
Mas,
enquanto a droga não é sintetizada, os cientistas oferecem pistas para
quem quer seguir um conselho médico tão saboroso e escolher o melhor
vinho para a saúde: pelas pesquisas, são os tintos feitos com uvas
tannat, merlot e cabernet sauvignon. São elas as que mais têm
resveratrol, substância da família dos polifenóis. E cerca de 95% dos
polifenóis estão nas cascas das uvas, segundo o cardiologista gaúcho
Jairo Monson de Souza Filho, que há 15 anos investiga e publica artigos
sobre efeitos dos vinhos. "Os vinhos são ricos em microminerais como ferro,
zinco, cobre, cromo, selênio, cobalto, iodo, manganês, molibdênio e
flúor. Entre eles, destacam-se o cromo, pelo seu efeito cardioprotetor e
contra o diabetes, e o silício, pela sua ação nas gorduras e na
aterosclerose", comenta. A mistura de microminerais benéficos à circulação sanguínea e polifenóis — como o resveratrol — é ideal para prevenir doenças."Esse mix de substâncias do bem tem poderoso efeito
antioxidante", diz Protásio Lemos da Luz, professor de Cardiologia da
USP e pesquisador do Instituto do Coração (Incor).Há dez anos o cardiologista estuda as ações benéficas
dos vinhos. Num trabalho com jovens na faixa dos 20 anos, com
colesterol alto e sem outro problema de saúde, doses certas de vinho
tinto tomadas por 15 dias dilataram as artérias dos participantes,
fluindo melhor o sangue.
Em agosto, no Congresso Europeu de Cardiologia, em
Paris, ele apresentou um trabalho que teve como foco justamente o
resveratrol. As cobaias que receberam doses mais altas de resveratrol
tiveram melhoria da capacidade vascular. Segundo Lemos, em outros
estudos o resveratrol aumentou a longevidade. Isso porque essa
substância estimula a replicação de células. E, quando um organismo
envelhece, perde exatamente essa capacidade de replicar as células.Mas atenção: o teor de polifenóis nos vinhos depende
da cepa, da região, do clima, da vinificação (sobretudo do tempo de
maceração e do controle de temperatura) e do modo pelo qual os vinhos
são armazenados em tonéis. Os cientistas recomendam vinhos tintos, em
doses pequenas, diárias. É bom para o coração e para a prevenção de
doenças degenerativas. Mas não vale abusar do vinho: quem ultrapassar a
dose recomendada perde qualquer benefício apontado pelas pesquisas.
Matéria: Agência Globo