Onde beber vinho nas cidades-sede da Copa

TAA

Você conseguiu seu tão almejado ingresso para a Copa. Ignorou o apelo de amigos à esquerda e à direita para boicotar esse evento do demônio. E embarca esta semana, por exemplo, para Manaus onde assistirá a Honduras e Suiça. Já comprou camiseta, bandeirinha do Brasil (embora o jogo não seja do Brasil), vuvuzela ou o que é que as pessoas estejam usando este ano para fazer barulho. Está feliz da vida. 

Só tem um problema: apesar de gostar de futebol, você é uma pessoa de vinho, daquelas que só bebe cerveja (especial) de vez em quando, e não tem a menor ideia de onde comemorar a vitória, seja de Honduras ou da Suiça, tanto faz, com uma taça de um vinho minimamente decente na mão. Se você tiver a sorte de estar em um camarote, poderá experimentar os vinhos oficiais da copa. Caso contrário, só vai encontrar vinho fora dos estádios.

Quem tem costume de viajar pelo Brasil sabe que é difícil encontrar bares e restaurantes cuja carta de vinhos não esteja aprisionada nos anos 80: Almadén Cabernet Sauvignon, Concha y Toro Reservado, Santa Helena Reservado, Periquita e Bolla, nenhum deles por menos de R$ 80. Mas vamos lembrar que aqui a gente está falando de capitais. Em todas elas há, pelo menos, um wine bar e alguns restaurantes que se preocupam com o público que gosta de vinho. Veja abaixo algumas sugestões de lugares para ir antes ou depois das partidas:

Belo Horizonte
2014-06-13-bhavec.jpg
Em BH, o torcedor não terá dificuldades para beber um bom vinho. Nos últimos anos, a cidade viu surgir uma série de restaurantes e bistrô gastronômicos (ou seja, restaurantes com chefs que estudaram gastronomia e estão se destacando na sua área). Nesses restaurantes é sempre possível tomar vinhos pouco óbvios. No entanto, quando se trata de diversidade, o destaque fica sempre com o veterano Taste-Vin, um francês famoso por seus suflês, no bairro de Lourdes. 

A casa, que também serve pratos de carne e peixe, tem mais 750 rótulos diferentes. É um lugar sofisticado e os preços condizem. Se estiver disposto a gastar, vá e sairá feliz. Mas, se quiser algo mais descompromissado, prove o Outono 81 Restaurante e Bar de Vinhos (foto). O bar funciona à noite dentro da loja de vinhos Rex Bibendi, que representa a importadora Zahil em Belo Horizonte. O grande sucesso da casa são os flights: quatro taças de vinho diferentes servidas numa caixinha de madeira. Os flights, em geral, são temáticos (Itália, Novo Mundo, pinot noir, etc), custam cerca de R$ 35 e podem ser acompanhados ou não de um menu degustação.

Brasília
2014-06-13-brasiliacellar.jpg
Segundo as más línguas, os políticos, mesmo oriundos das camadas mais sacrificadas da população, costumam adquirir rapidamente o gosto por vinhos raros e sofisticados. Quem nunca ouviu falar de uma festinha (atualmente ou no passado) em Brasília regada a Chãteau Petrus ou a Romanée-Conti? Verdade ou lenda, você pode esperar encontrar vinhos bastante bons nas cartas da cidade. 

Porém, como imagino que seu salário não seja o de um deputado, sugiro que escolha um lugar onde se encontra uma boa variedade de estilos e preços como o wine bar da loja da importadora Grand Cru na cidade. Há sempre uma boa seleção de taças e você pode também tomar qualquer uma das garrafas da loja. 

Se quiser comer, há pratos e petiscos. No almoço, o executivo sai R$39. No jantar, os preços são um pouco mais salgados. Já o Cellar Wine Bar + Bistrõ (foto) tem uma carta bastante enxuta, com 34 rótulos, mas bastante versátil, com rótulos que vão de cerca de R$ 40 até cerca de R$ 400.

Cuiabá
2014-06-13-cuiabaavec.jpg
Confesso que nunca estive em Cuiabá. Então, não posso jurar. Mas, pelo que pesquisei, você que foi premiado com ingressos para os emocionantes embates entre Rússia e Coreia do Sul, Nigéria e Bósnia ou Japão e Colômbia vai ter de dar uma sambadinha para conseguir beber bons vinhos. Não é que não tenha, mas as opções são poucas. 

Um restaurante que parece fazer um bom trabalho com vinhos é o Avec (foto), do Hotel Gran Odara. Têm até um rótulo próprio produzido pela Lídio Carraro, a mesma vinícola gaúcha que fez o vinho da Copa. Outra opção é o Mahalo, o restaurante de cozinha contemporânea da jovem chef Ariani Malouf, que tem até alguns experimentos com ingredientes locais. 

Se estiver disposto a gastar, lá você encontra até o ícone chileno Almaviva ou o barolo do badalado produtor italiano Angelo Gaja, além de boas opções de vinhos médios. Uma boa saída quando se está em busca de beber com dignidade, é achar o restaurante português da cidade. Quietinhos, quietinhos, os portugueses costumam ter uma carta bem razoável. 

O Taberna Portuguesa não foge á regra: oferece rótulos ótimos de vinícolas conheço bem como a Herdade do Esporão e até super vinhos como o Pera Manca. Além de rótulos portugueses, têm também uma boa variedade de argentinos, chilenos, espanhóis, etc.

Curitiba
2014-06-13-curitibamadero.jpg
Um dia fui a Curitiba só para conhecer a adega do restaurante Durski. É a melhor e mais completa do Brasil, recheada de um monte coisas que eu não posso comprar. Em uma carta de vinhos do Durski de 2011 que encontrei na internet, havia por exemplo o Château Palmer 2005, um Gran Cru Classé de Bordeaux, por R$ 2.740,00 e um Vega Sicilia Unico Reserva Especial 2008, o ícone espanhol, por R$ 2.145,00. 

Mas eles têm também vinhos acessíveis, muito bem escolhidos. Na mesma carta, o Barbera d'Asti l'Avvocatta 2006, um ótimo vinho do Piemonte, estava por R$ 99, o preço da garrafa hoje na importadora. Na verdade, queria conhecer a adega deles, e fazer uma reportagem que acabou não rolando, principalmente por causa das coleções de grandes vinhos que eles têm. A maior delas é, com certeza, a de garrafas do botritizado Château d'Yquem. 

A coleção começa com garrafas de 1904, que estão à venda (pelo módico preço de R$ 56 mil), e vem até os dias de hoje. Mas eu não comi no Durski. Como era hora do almoço, ele estava fechado. Então, almocei no Madero, que é do mesmo dono, fica no imóvel ao lado e compartilha a adega do Durski. Uma ótima escolha para ir depois do jogo. Tem um palmito ao forno delicioso, carnes muito bem preparadas e um hambúrguer que eu adoro. 

Atenção, o Madero é uma rede nacional e só em Curitiba, onde nasceu, tem 13 casas, todas com uma boa carta de vinhos. Mas, se você, como eu, ficou curioso para conhecer a adega do Durski, tem de ir ao Madero Prime Steakhouse, na Av. Jaime Reis, 262, no bairro de São Francisco.

Fortaleza
2014-06-13-fortalezagarrafeira.jpg
É sempre bom lembrar que um bar de vinhos é, antes de tudo, um bar. Não, uma igreja e nem uma sala de biblioteca. Eu não fui pessoalmente, mas pelas críticas que li e pelas fotos que vi, a Garrafeira 520 (foto) é exatamente o oposto disso, a começar pelos três sócios que são super jovens. 

Eles têm um espaço aberto, nos fundos, todo decorado com garrafas coloridas, que fica cheio de moçada. Mas, claro, a qualidade do vinho tem de ser boa. É. Eles são também uma loja e têm mais de 500 rótulos que pode ser comprado a preço de loja. 

Mas se você quer um lugar mais sossegado, mas também com clima descontraído, vá ao bar de vinhos da Grand Cru. Lá eles têm uma enomatic com 12 garrafas, da qual você pode comprar doses de 50, 100 ou 150 ml de vinho.

Manaus
2014-06-13-manausviuvanegra.jpg
A cidade que eu, maldosamente, citei como exemplo de onde o bebedor de vinho se dá mal tem pelo menos três bares de vinho que valem à pena. A Champanheria Viúva Negra fica num belo casarão do Centro Histórico. 

No meio do salão, tem uma banheira com algumas das mais de 50 opções de espumantes e outros vinhos servidos na casa. Para acompanhar, escolha algo local, como o pirarucu ao molho de capim-santo. No Adega wine Bar, de quinta a sábado, além de escolher entre cerca de 70 rótulos, o torcedor pode ouvir bandas de jazz, blues e MPB. 

Já o Botequim do Vinho é loja durante o dia e bar a partir do fim da tarde. Estão à disposição 80 rótulos e, para acompanhá-los, petiscos.

Natal
2014-06-13-natalvinhedos.jpg
Não sou muito amiga de shopping centers, mas, o que posso fazer, agora virou moda abrir bar de vinho dentro de shopping. Além disso, o Vinhedos tem a seu favor a boa variedade de vinhos em taças que ele oferece. Aliás, só a casa que oferece uma grande variedade de vinhos em taça é, de fato, um wine bar. No Vinhedos são 24 opções, além de uma ótima variedade de garrafas aos preços da importadora. 

O grande problema, para o estabelecimento, de servir vinho em taça é que, se a garrafa não é consumida em um ou dois dias, no máximo, o que sobrar vai para o lixo. Ou melhor, ia para o lixo. Agora existem várias tecnologias para conservar o conteúdo das garrafas depois de aberto, a maioria dessas tecnologias inclui a inserção de um gás inerte para ocupar o espaço vazio dentro da garrafa e expulsar o oxigênio, que é o grande responsável pela deterioração de tuuudo neste mundo. O Vinhedos usa uma máquina francesa chamada Le Verre de Vin.

Porto Alegre
2014-06-13-valedosvinhedos.jpg
Acho que em Porto Alegre todo mundo espera beber vinho bom ou, pelo menos, o que há de melhor da produção nacional. É verdade, mas está cheio de bares e restaurantes que não têm um vinho nacional decente na carta. Pior, em alguns lugares mais populares, podem oferecer vinho de garrafão, ou colonial como eles chamam. 

Claro que há restaurantes de qualidade com cartas internacionais de bom padrão, mas quem está interessado em diversidade tem que escolher o endereço. Uma boa opção é a Vinum Enoteca. Localizada no charmoso bairro do Moinho dos Ventos, a casa tem cerca de 400 rótulos que podem ser escolhidos direto da prateleira. Ponto a favor: tem um bom número de rótulos locais. Mas, se você é tão apaixonado por vinho quanto eu, tire um ou dois dias extra e vá para a Serra Gaúcha. fica pertinho, uma hora e meia de carro. 

Lá você vai visitar vinícolas, falar com produtores, beber coisa muito boa. Grandes espumantes, ótimos brancos e tintos cada vez melhores, vinhos que têm história. O passeio é o máximo. Vou pelo menos uma vez ao ano. Dê uma olhada nos posts que fiz no início deste ano sobre minha viagem à serra. Só uma coisa: o parreiral não vai estar cheio de uva como na foto ao lado, que tirei em fevereiro.

Recife
2014-06-13-recifecasadosfrios.jpg
Recife costuma se anunciar como o terceiro maior pólo gastronômico do Brasil. Não sei bem o que isso significa. Seria a terceira cidade com melhor oferta de restaurantes per capita do Brasil? Talvez. Não importa se a afirmação é exatamente verdadeira. O que importa é que a capital pernambucana tem de fato uma ótima oferta de restaurantes de boa qualidade, muitos que podem ser chamados gastronômicos (se é que existe algum restaurante que não seja gastronômico, um restaurante cardionômico, quem sabe). 

O torcedor não terá grandes dificuldades para beber bons vinhos durante às refeições -- pelo menos, não dificuldades muito maiores do que paulistanos e cariocas ainda enfrentam no dia-a-dia. Porém, se você quiser apenas beber, comendo alguns petiscos recomendo a Casa dos Frios (foto), no bairro das Graças (ou no shopping, se preferir). Uma espécie de empório ultra bem sortido, a casa tem um bar de vinhos com uma máquina para 12 garrafas, que servem doses de 30, 75 ou 150 ml. Além disso, pode escolher um dos mais de 1000 rótulos da loja e levar para a mesa. 

Se estiver por lá, não deixe de comer o bolo de rolo deles, é o mais tradicional da cidade. Aliás, compre vários para levar para casa e presentear os amigos. Outra boa opção é o Club du Vin, em Boa Viagem, um misto de loja e bistrô. Lá você também pode escolher um rótulo na prateleira (mais 400 opções) e tomar junto a alguns petiscos.

Rio de Janeiro
2014-06-13-IMG_20140609_222109.jpg
Infinitas, as opções não são nunca. Não conheço mais nenhum lugar onde se possa tomar espumantes no calçadão no Rio de Janeiro. Cada vez que vou á cidade, morro de saudades do Bar & Champanheria Copacabana, um quiosque como tantos outros de Copacabana, só que servia champanhes e espumantes. Fechou faz uns dois anos. Mas não se pode reclamar da falta de lugares para se beber bons vinhos no Rio. 

Vamos supor que tenha o ingresso para a final (que inveja!) e o Brasil saia campeão. Nesse caso, você não pode beber outra coisa que não seja espumante. Eu tomaria um champanhe de uma vez. Se estiver se sentido poderoso, a pedida é o Bubble Bar (foto), que fica anexo ao restaurante Bazzar, em Ipanema. O bar, que tem apenas 14 lugares, é dedicado a champanhes, espumantes, cervejas e jerez (que não tem bolhas, mas é uma delícia), sempre rótulos especiais dessas categorias. Eles têm Krug, Dom Perignom, Gosset, Ferrari, etc.. 

Dos nacionais, têm Chandon Excellence, Cave Geisse terroir Nature, Millésime, entre outros. Outra opção é o Charleston Bubble Lounge, em Copacabana. Eles têm 140 rótulos de vinhos borbulhantes, que costumam ser acompanhados de Jazz, Blues ou Charleston.

Salvador
2014-06-13-IMG_20140609_222821.jpg
Há vários restaurantes onde você encontra uma boa carta. Com comida baiana, recomendo que tome branco ou espumante ou uma bela caipirinha de cachaça. Mas, se preferir pesticar, pode experimentar o Bacco Champagneria e Wine Bar (foto), no Salvador Shopping. 

Odeio bares e restaurantes em shoppings, mas este tem um terraço super bacana para a rua. Tem uma diversidade razoável de vinhos: 80 rótulos, entre tintos, brancos e espumantes, vendidos por garrafa. Oito dessas garrafas ficam também na máquina que serve doses de 25, 75 ou 150 ml. Os rótulos servidos em taça estão sempre sendo trocados.

São Paulo
2014-06-13-IMG_20140609_222400.jpg
É a cidade onde eu moro, então, conheço melhor. Mas acho que, fora isso, São paulo é realmente a cidade onde você tem mais opções de casas para beber bons vinhos. Não vou nem falar dos restaurantes. Vamos falar apenas dos bares de vinho. Há muitos. Os três que eu mais vou são o Bardega, a Enoteca Decanter e o Vino!. O Bardega, na Vila Olimpia, é a meca do enófilo. Tem 12 máquinas enomatic, cada uma delas com 8 rótulos diferentes (doses de 30, 60 e 120 ml) e mais um bar de espumantes e champanhes. 

Tudo da melhor qualidade, selecionados por Arthur Azevedo, meu ex-professor e uma das pessoas que mais entende de vinhos que eu conheço. E as comidinhas são uma delícia. Único perigo (no meu caso, certeza) é se empolgar, tomar 30 ml de um barolo, 30 ml de um borgonha, 60 ml disso, 60 ml daquilo, mais umas tantas taças e, pronto!, lá se foi uma fortuna. Outro bar de que gosto muito é a Enoteca Decanter, no Itaim. 

São 50 rótulos por taça e todo portfólio da loja para ser bebido ali sem nenhum acrescimo no preço. As comidinhas também são uma delícia. Tenho ido bastante recentemente também no Vino!. Um misto de loja, wine bar e restaurante, eles têm também uma boa variedade de cervejas especiais. Você pode pedir uma comida do cardápio ou se servir do bufê de frios.

Fonte: Brasilpost