Vinhos mais baratos tendem a ser os melhores





William McCrea é um cardiologista britânico que prescreveu vinho tinto a dez mil pacientes em dez anos. No Brasil, segundo ele, a bebida pode ser incorporada à dieta. E o nosso café poderia ajudar nisso. A ideia de receitar vinho surgiu quando ele percebeu que os franceses tinham menos infartos que os britânicos, apesar de comerem mais gordura e fumarem mais. No Brasil, assim como em grande parte do resto do mundo, as doenças cardíacas são a principal causa de morte, conforme entrevista cedida.

Em que casos e idades o senhor prescreve vinho aos pacientes? Aos pacientes com bloqueio da artéria coronária, de todas as idades, eu indico 125 ml de vinho duas vezes por dia. Às pessoas com distúrbios psiquiátricos, histórico de adição a álcool ou drogas, doenças hepáticas, úlceras estomacais, doença do músculo cardíaco ou batimentos cardíacos irregulares o vinho não é receitado.

Qualquer tipo de vinho? O Cabernet Sauvignon do Chile, por ser cultivado em grande altitude, é o melhor, o mais rico em antioxidantes. Outros vinhos benéficos são Pinot Noir e Shiraz. Os italianos, surpreendentemente, têm concentração média de antioxidantes e o Zinfandel tinto da Califórnia está entre os de concentração mais baixa. Em geral, vinhos mais jovens e baratos com tampa de rosca tendem a ser os melhores para o coração.

Por quê? Uma vez que a garrafa é aberta, os antioxidantes se dissipam conforme o vinho “respira”, por isso eu recomendo o uso de tampas a vácuo. Os antioxidantes também podem ser absorvidos pelas rolhas durante o armazenamento prolongado, particularmente em madeira. Os estudos sobre flavonoides e seus efeitos para o coração já são conhecidos, mas não seu uso direto como prescrições de médicos a pacientes. Em 1992, a revista “Lancet” publicou um artigo que mostrou que o consumo moderado de álcool resultou em uma redução de 40% em ataques cardíacos, e, em 2001, a Associação Americana do Coração saiu com o slogan “um drinque por dia leva a rigidez arterial embora”. A descoberta de antioxidantes, tais como flavonoides e resveratrol ou polifenóis da casca da uva vermelha, particularmente quando cultivada em altitudes elevadas, é crucial: essas substâncias têm sido usadas para evitar danos no interior dos vasos sanguíneos e para inibir a formação de coágulos no sangue, pois dilatam as artérias, aumentam o bom colesterol e reduzem em 20% o risco de derrames.

Há alguma forma de seguir sua prescrição quanto ao consumo de vinho sem criar outros problemas? O ideal é consumir quantidades moderadas de álcool regularmente, em vez de muita quantidade de uma só vez, para evitar danos ao coração e a outros órgãos.

Qual é a reação dos pacientes à receita médica? Acredito que o senhor deve ser amado pelos pacientes... Sim, meus pacientes me amam (ou pelo menos a maioria deles!). Muitos seguem meus conselhos, mas não todos, como, por exemplo, os que têm motivos religiosos.

No Brasil, temos índices altos de obesidade e doenças associadas, como o diabetes. É possível prescrever vinho nessas condições? Uma taça de vinho tinto tem aproximadamente 85 calorias e deve ser incorporada a uma dieta controlada. Para interromper a vontade de tomar mais vinho, o ideal é beber uma xícara de café forte: a reação química causada por essa combinação na boca faz com que a pessoa recuse o álcool. Pelo menos para a maioria das pessoas, os taninos do vinho tinto não ficam tão agradáveis depois do café. Deve funcionar no Brasil, já que vocês têm um café de ótima qualidade!

Fonte: O Globo